Câncer anal: Marcia Cross, atriz chama atenção para a doença

A incidência do câncer anal é rara – corresponde a apenas de 1* a 2% de todos os tumores colorretais –, mas se trata de um assunto que precisa ser mais debatido, como fez recentemente a atriz Marcia Cross, 57, conhecida por interpretar a personagem Bree Van De Kamp na série “Desperate Housewives”.

A americana veio a público falar sobre o tema no programa de TV “CBS This Morning” com o intuito de tirar o estigma da doença e alertar sobre as formas de prevenção. "Sei que há pessoas com vergonha, mas você tem câncer! Acha mesmo que deveria se sentir envergonhado por ele ter aparecido no seu ânus?”, comenta a atriz, que afirmou que pretende vacinar as filhas gêmeas de 12 anos contra o HPV, vírus comumente relacionado ao câncer anal.

Marcia contou que, em 2017, ela descobriu o tumor no ânus durante uma visita ao ginecologista para um exame retal anual – quase 10 anos depois que seu marido, Tom Mahoney, foi tratado de câncer na garganta. “Apesar de os dois tumores terem o HPV como fator de risco, o de laringe é mais associado ao fumo e ao consumo de álcool”, diz Samuel Aguiar, cirurgião oncologista chefe do Núcleo de Tumores Colorretais do A.C. Camargo Cancer Center.

A atriz passou por sessões de quimioterapia e de radioterapia no último um ano e meio e agora está em fase de remissão da doença.

Incidência da doença

O câncer de ânus atinge mais o sexo na faixa etária dos 50 e 60 anos – em 2015**, das 406 mortes ocorridas no Brasil em decorrência do câncer anal, 64% foram de mulheres – e normalmente é descoberto já em um estágio desenvolvido porque, além de aparecer em um local de difícil visualização, as pessoas têm resistência de ir ao médico ou realizar os exames necessários para investigar a doença.
Prova disso é um estudo realizado pelo A.C. Camargo Cancer Center: dos 1200 pacientes com indicação de realizar o exame de sangue oculto (um dos possíveis sinais da doença), 45% deles não retornaram ao hospital com a amostra de fezes. Dentre os que entregaram o material para análise e apresentaram resultado positivo, 10% não voltaram para fazer um exame de imagem.

Como se prevenir do câncer anal

Cerca de 90% dos casos de câncer anal estão relacionados à infecção causada por HPV. Para diminuir as chances de contágio pelo vírus, é recomendado evitar ter múltiplos parceiros e usar preservativo durante qualquer tipo de relação sexual – lembrando que o HPV pode estar presente em mucosas e também na pele (como na vulva, no períneo e na bolsa escrotal).
Outros fatores de risco também associados à enfermidade são o contágio pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana), fumo e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como gonorreia, herpes genital e clamídia.
Os especialistas são unânimes em apontar a vacinação como arma importante contra a contaminação pelo HPV. Ela é oferecida por clínicas particulares para qualquer pessoa e também pelo SUS para o público-alvo: meninas de 9 a 14 anos, meninos de 11 a 14 anos, portadores de HIV e pessoas transplantadas de 9 a 26 anos. “Se a vacinação alcançar toda a população, em algumas décadas poderemos até erradicar o vírus”, diz o médico Ramon Andrade de Mello, professor de oncologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, oncologista da Clinonco e do Hospital Albert Einstein.

Sintomas

Dor na região, sangramento de cor viva nas fezes e feridas são sinais comumente ligados a esse tipo de câncer. “Como os sintomas se confundem com os de fissura anal e hemorroidas, é indicado procurar um proctologista para investigá-los”, diz Samuel. A doença também pode causar coceira, secreções incomuns, ardor e dificuldade em controlar a saída das fezes.

Diagnóstico

O câncer de ânus pode ser descoberto tanto no exame clínico (exame de toque) quanto em exames de imagem (como anuscopia, proctoscopia e ressonância magnética). Identificado o tumor, o médico pede uma biópsia do material para obter o diagnóstico da lesão. Quanto mais precocemente acontece a detecção, maior é a chance de sucesso no tratamento.
Diferentemente de outras doenças induzidas pelo HPV, como o câncer de colo do útero, não há recomendação de exames preventivos de rastreamento do câncer de ânus. “Contudo, pessoas com HIV devem fazer um controle mais rigoroso por serem do grupo de risco”, diz Samuel.

Tratamento

O tratamento padrão é a combinação de sessões de quimioterapia e radioterapia – a cirurgia é exceção, indicada em menos de 20% dos casos. De acordo com os especialistas, a taxa de cura é relativamente alta.

*Dados no INCA (Instituto Nacional de Câncer)
**Dados do Atlas de Mortalidade por Câncer

Fonte: Yahoo
Publicação Joraci de Lima

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